29.4.25

Renovar para crescer: o desafio eleitoral do Rio Ave


Falta ainda algum tempo para as eleições do Rio Ave Futebol Clube. A acontecerem no calendário habitual, só deverão realizar-se no final do próximo ano, muito provavelmente em novembro. 

É verdade que este é um tema que tende a dividir opiniões e gerar algum desconforto — sobretudo para quem há muitos anos se sente confortável nos corredores do poder do clube. 
Mas será cedo para o abordar? No meu entender, não. 
Pelo contrário, este é precisamente o momento certo para lançar a reflexão e abrir caminho ao debate.

O valor democrático da pluralidade de listas

Um clube vive da sua massa associativa e é nessa massa associativa que deve residir a força, a representatividade e a vitalidade das suas decisões. 
Quando existe apenas uma lista a sufrágio, o ato eleitoral transforma-se num simples formalismo — uma validação sem alternativa. Pior: cria-se a ideia de que quem já lá está tem o lugar assegurado por direito quase divino.

A existência de duas ou mais listas é saudável. Obriga a pensar, a discutir ideias, a apresentar projetos, a ouvir os sócios. Abre espaço à renovação e à exigência. E, acima de tudo, devolve aos associados o poder de escolha — esse que é o pilar de qualquer sistema democrático e participativo.

Num clube como o Rio Ave, com uma história rica, uma base de adeptos apaixonada e desafios cada vez mais complexos, a pluralidade eleitoral é um sinal de maturidade. Não se trata de criar clivagens desnecessárias, mas sim de dar voz a diferentes formas de ver o clube e de garantir que quem lidera o faz por mérito, por visão e por capacidade, e não apenas por inércia ou falta de alternativa.

A necessidade de renovação e novos rostos

Importa também olhar para dentro. O Rio Ave tem um conjunto de dirigentes que, com mais ou menos visibilidade, estão presentes nos órgãos sociais há décadas. Não está aqui em causa a competência ou a dedicação de quem dá o seu tempo e esforço ao clube. Mas a verdade é que, quando os mesmos nomes se perpetuam no poder, perde-se oxigénio. A renovação deixa de acontecer, o debate interno esmorece e, aos poucos, o clube vai-se tornando uma estrutura fechada sobre si mesma, desligada da realidade atual.

É fundamental que surjam novos rostos. Gente com ideias frescas, com outra ligação aos tempos que vivemos, com mais proximidade às gerações mais jovens e com capacidade para fazer do clube uma estrutura mais aberta, mais transparente e mais ajustada aos novos desafios.

Os cargos diretivos não devem ser vistos como tronos vitalícios, mas como responsabilidades transitórias, com dever de entrega e compromisso, mas também com a humildade de saber sair quando é tempo de dar lugar a outros.

Na história do Rio Ave, desde a década de 80, que as eleições têm tido apenas uma lista. Quase meio século de ausência de escolha real. Isso é um sintoma de estagnação, não de estabilidade. Um clube sem alternativas é um clube adormecido, onde a crítica se confunde com oposição e onde o receio de incomodar impede o progresso.

Dentro de dois meses, faz 2 anos que Alexandrina Cruz foi eleita Presidente do Rio Ave FC e muitos sócios têm sentido uma quebra evidente na ligação entre quem gere e quem apoia. A falta de informação, o distanciamento na tomada de decisões e a exclusão dos sócios dos momentos estruturantes têm vindo a acentuar a necessidade de mudança.

Por tudo isto, acredito que o futuro do Rio Ave beneficiaria imensamente de eleições com duas ou mais listas. Pela primeira vez em décadas, podermos ter um verdadeiro debate, uma escolha em consciência, um momento de envolvimento coletivo.

Não se trata de “dividir o clube”. Trata-se de o tornar mais forte. Mais plural. Mais representativo.

O Rio Ave merece. Os sócios também.