Há pouco mais de uma semana no último jogo do Rio Ave escrevia-se por aí: “Na estreia de Alexandrina Cruz como presidente da SAD do Rio Ave houve folha limpa”. A frase, que pretendia transmitir otimismo, serviu para criar um entusiasmo artificial, quase eufórico, depois de uma vitória frente ao Tondela. Bastou um resultado positivo frente a uma das piores equipas do campeonato para que alguns tentassem vender a narrativa de que “agora é que vai ser”.
Ao contrário de outros, não vou cair no ridículo de ligar os resultados desportivos a qualquer promoção de alguém. Todos sabemos que nada disso teve impacto real em campo. O que me preocupa verdadeiramente é outra coisa: é a forma como, nos últimos dois/três anos, muitos adeptos do Rio Ave baixaram drásticamente o seu nível de exigência para com o clube.
É certo que começamos a ouvir cada vez mais vozes de descontentamento — sinal de que há quem ainda pense pela própria cabeça e queira mais para o Rio Ave. Mas também sabemos que basta uma vitória na próxima jornada contra o Estrela para que, de repente, uma parte ruidosa da massa associativa — aquela ala que funciona quase como uma seita fiel à direção — tente instalar novamente a ilusão de que está tudo bem, que estamos no bom caminho, que é preciso tempo.
A verdade é dura, mas simples: este clube perdeu alma.
Dentro de campo, não há garra. Não há chama rioavista. Não há vontade de honrar a camisola. O futebol do Rio Ave transformou-se num conjunto de jogos sem identidade, sem coragem e sem respeito pela história que carregamos.
E se dúvidas houvesse, basta olhar para o jogo de hoje da Taça de Portugal: entrámos sem um único jogador português no onze inicial (só João Graça entrou na segunda parte). Dizem-nos que isto são “novos tempos”, que o futebol está diferente, que esta é a realidade. Para mim, desculpem, isto chama-se outra coisa: gestõ€s — e nem é preciso explicar melhor, porque todos percebemos.
O Rio Ave sempre foi um clube com identidade própria. Um clube que se orgulhou de crescer com base nos seus valores, no seu trabalho e nas suas gentes. Hoje, parece apenas um projeto vago, sem rumo, sem dir€ção e sem alma — entregue a quem o trata apenas como um negócio.
Por isso, quando ouvirem alguém dizer que criticar é ser negativo, respondam-lhe isto: exigir mais do Rio Ave não é ser negativo — é ser rioavista.
Hoje ganhou a melhor equipa.
A equipa mais portuguesa,
A equipa mais portuguesa,
A equipa com menor orçamento,
A equipa que sente mais a sua camisola,
A equipa que teve mais vontade.