22.10.25

Entre o aparente equilíbrio e a real dependência: As receitas caíram e os custos dispararam






O Relatório e Contas do Rio Ave Futebol Clube referente à última época já se encontra disponível para levantamento.
O João Paulo Menezes já fez o resumo possível sobre os números conhecidos da SAD, onde se destaca um prejuízo de 19 milhões de euros — mas convém sublinhar que o documento agora divulgado diz respeito ao Clube, e não à Sociedade Anónima Desportiva.
Como tal, e uma vez que a informação financeira relevante da SAD não é aqui abordada, não há muito mais a acrescentar em termos de dados concretos.


No entanto, ao analisar este Relatório e Contas, há detalhes e sinais que saltam à vista e que, ainda que a Assembleia Geral apenas se realize na próxima semana, merecem já menção.

Traços Gerais

  1. O resultado líquido do período apresenta uma melhoria face ao exercício anterior, mas essa evolução positiva não deve ser lida como sinal de sustentabilidade. O clube continua fortemente dependente dos subsídios à exploração, sem os quais a estabilidade financeira estaria em causa.
  2. Verifica-se ainda uma diminuição acentuada da receita operacional, com as vendas e prestações de serviços a caírem cerca de 20%.
  3. Por outro lado, o lado da despesa cresceu de forma expressiva, com destaque para o aumento muito significativo nos Fornecimentos e Serviços Externos (+88%) e, sobretudo, nos Gastos com o Pessoal (+99%).

Análise Detalhada

Quando se observa o relatório com mais atenção, surgem vários indicadores preocupantes:

  1. As receitas de quotização mantêm-se praticamente inalteradas, apesar de o clube ter promovido uma campanha de pagamento anual de quotas que o próprio descreveu como um sucesso.
    Isto significa que, tendo em conta o adiantamento de verbas (quotas pagas antecipadamente), a receita real volta a cair, o que é ainda mais significativo se tivermos presente que o número de sócios quase duplicou face a 2022/2023.
  2. A receita comercial proveniente da venda de mercadorias registou uma quebra drástica de 59,5%.
  3. O crescimento do resultado líquido é totalmente dependente de rendimentos extraordinários ou não operacionais, o que significa que não resulta da atividade regular do clube.
  4. Os custos com pessoal e os fornecimentos e serviços externos quase duplicaram, um aumento difícil de justificar face ao contexto atual e à redução da receita operacional
  5. Custos de representação subiram 396% (de 1447€ para 5738€)
Existem outros aumentos que mais tarde serão esmiuçados em fase posterior à assembleia.


Em resumo, o aumento do Resultado Líquido em 2024/2025 (€290 mil), embora positivo, assenta em elementos não recorrentes — nomeadamente os €346 mil em “Outros Rendimentos” (subsídios da CMVC, da Federação Portuguesa e Renda da SAD).
Se o clube tivesse mantido o nível atual de gastos sem esse reforço extraordinário, o resultado de exploração seria negativo.

As receitas caem e custos disparam.

Este cenário sugere que o Rio Ave FC aparenta boa saúde financeira no curto prazo, sustentada por receitas pontuais, mas enfrenta sérios desafios de sustentabilidade na sua atividade operacional.

Está totalmente dependente de subsídios.