Nos últimos anos, o Rio ave FC tem vivido um período que muitos de nós nunca imaginaríamos presenciar. Falo de um clube que sempre se orgulhou de ser dos sócios, feito por sócios, e que hoje, infelizmente, parece estar a afastar-se dessa sua essência.
Recuando ao ano de posse desta direção. O número de associados foi um tema envolto em dúvidas, muito se escreveu e por muitos foi escrito — contagens que ninguém explicou e com um processo eleitoral que, curiosamente, teve um número de votos anormalmente elevado. Em 85 anos de história, nunca se tinha visto tamanha afluência. Dúvidas se levantaram.
Mas o tempo mostrou que as desconfianças não eram infundadas. A transformação da nossa SAD foi conduzida sem debate, sem auscultação, sem transparência. A verdade é que, enquanto sócios, fomos espectadores de um processo que devia ter sido profundamente participativo. Fomos deixados de fora de uma das decisões mais estruturantes da história do Rio Ave FC. Um processo feito nas costas de quem construiu este clube com paixão, suor e amor à camisola.
E as consequências estão à vista. A transformação da SAD não foi apenas jurídica ou administrativa — foi emocional, cultural e humana. O clube mudou de rosto, mas também de alma. Foram saindo figuras com décadas de dedicação. Pessoas que deram tudo pelo Rio Ave, que sempre estiveram lá, sem holofotes, mas com uma entrega genuína. Diretores, funcionários, até presidentes-adjuntos. Foram todos substituídos, sem explicações claras, como se o passado pudesse ser varrido sem qualquer comunicação.
Entretanto, a ligação entre o clube e os seus sócios vai-se desfazendo. Basta olhar para os números de assistência nos jogos que tendem a não aumentar face ao aumento exponencial de sócios que existiu. Onde antes havia entusiasmo, há agora desinteresse. Onde antes havia orgulho, há agora resignação no final dos jogos.
O Estádio dos Arcos, que já foi símbolo de união, está cada vez mais vazio de espírito. Os números do relatório e contas que hoje analisamos são o espelho disso mesmo — menos apoio, menos receita, menos vida.
Tudo isto acontece sob uma liderança cada vez mais centralizada, unipessoal, em que a presidente parece falar por todos.
A direção, na prática, foi remetida para o silêncio. O clube, que devia ser plural, tornou-se uma estrutura vertical onde as decisões se tomam num gabinete e não em conjunto com quem faz o clube viver: os seus sócios e com vocês dirigentes.
E chegamos agora ao ponto mais sensível: a acumulação de cargos. A presidente do clube é também presidente da SAD. E por mais voltas que se dê, isto é, no mínimo, um enorme conflito de interesses.
Porque quem é presidente da SAD tem o dever de defender os interesses da SAD.
 E quem é presidente do clube tem o dever de defender o clube.
 
Mas quando as duas cadeiras são ocupadas pela mesma pessoa, quem defende o quê?
Dou apenas alguns exemplos práticos:
	Como já aconteceu inúmeras vezes no futebol nacional e internacional: Quando a SAD tem uma dívida ao clube, ou deixa de pagar uma verba que deve — quem é que cobra?
Será que é Alexandrina Cruz, presidente do Rio Ave Futebol Clube, que vai exigir o pagamento… à Alexandrina Cruz, presidente da SAD do Rio Ave, nomeada precisamente pelo detentor da SAD para defender os interesses da SAD?
	E quando há uma negociação de cedência de espaços, como aconteceu há pouco mais de um mês — quem representa o arrendatário e quem representa o arrendador?
Será que Alexandrina Cruz, presidente do Rio Ave Clube, senta-se à mesa para negociar as melhores condições financeiras para o clube… com a Presidente da SAD do Rio Ave, também ela Alexandrina Cruz, que por sua vez está lá para defender os interesses da SAD?
Como é que terá sido a decisão de perdoar uns milhares de euros à SAD na época passada por parte do Clube?
Terá sido a Presidente do Rio Ave FC, Alexandrina Cruz, que se sentou com a Presidente da SAD do Rio Ave, também Alexandrina Cruz, para decidir qual a verba que melhor servia os interesses do clube… e simultaneamente os da SAD?
E mais: no dia em que os interesses do clube não coincidirem com os interesses da SAD como acontece imensas vezes no futebol nacional e internacional — o que vai acontecer?
Irá Alexandrina Cruz, presidente do Rio Ave FC, bater-se de razões e decidir ir para a esquerda, quando Alexandrina Cruz, presidente da SAD do Rio Ave, quiser ir para a direita?
Como é que isto é possível?
Como é que alguém pode achar que esta situação serve o clube, a transparência ou os sócios?
Estas perguntas são simples, mas as respostas não o são.
E é precisamente por não haver respostas claras que a transparência se perdeu.
O que se viu, foi um representante vender parte de uma empresa a outra entidade e depois ir presidir à empresa, sendo eleita pelo seu proprietário, para a qual vendeu tendo decidido o preço e condições da venda ao seu novo "empregador",
Tudo sem que ninguém da restante direção ache isso estranho e o manifeste publicamente.
O Rio Ave sempre foi um exemplo de clube sério, respeitado, com identidade. Mas hoje vivemos tempos em que as decisões se tomam em círculos fechados, onde o contraditório é visto como afronta e onde as vozes críticas são censuradas, desvalorizadas e atacadas.
Nós sócios e também vocês dirigentes, não podemos aceitar que o clube se transforme num instrumento ao serviço de vontades individuais. O Rio Ave é maior do que qualquer presidente e maior do que qualquer mandato. Seja Alexandrina ou outra pessoa a presidir este dois órgãos em simultâneo.
E por isso, esta intervenção é, acima de tudo, um apelo.
Um apelo para que o Rio Ave volte a ser dos sócios e representado por todos os seus dirigentes.
Que volte a ser transparente, participativo e vivo.
Que volte a ser o Rio Ave que aprendemos a amar — de todos, e não apenas de alguns.
Por isso, reforço o apelo que fiz no passado dia 3 de outubro:
Senhora Presidente, demita-se.
E não caia na tentação de se recandidatar, escudando-se do seu “exército” para tentar validar, através de um processo eleitoral, aquilo que é — e continuará a ser — um claro conflito de interesses.
Nenhum ato eleitoral confere legitimidade a uma situação eticamente indefensável.
Muito menos quando é sustentado pela força de um grupo fiel, e não pela vontade genuína dos verdadeiros sócios.
Mas como sei que em caso algum se demitirá, então deixo estas duas situações para as quais gostaria de obter esclarecimentos diretos da sua parte:
- No dia em que os interesses do clube não coincidirem com os interesses da SAD como acontece imensas vezes no futebol nacional e internacional — como é que se irá posicionar? 
- Se o investidor quiser adiar a construção da bancada para 2029 por exemplo, o que dirá a presidente do Rio Ave FC? 

 

 
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