3.10.25

Incompatibilidade inaceitável - Demissão já!



A notícia que hoje conhecemos é de uma gravidade sem precedentes na história do Rio Ave FC.

A presidente do Rio Ave Futebol Clube, Alexandrina Cruz, acaba de ser nomeada presidente da própria Sociedade gerida por esse mesmo fundo (algo que já tinha escrito aqui que iria acontecer)

A nomeação de Alexandrina Cruz como presidente da sociedade gerida pelo fundo que comprou a SAD é uma incompatibilidade óbvia e inaceitável. Transformar a SDUC em SAD e depois passar a presidir a entidade do outro lado do balcão não é apenas um conflito de interesses: é a negação da lógica mínima de governação democrática e transparente que um clube associativo exige.

Os elementos da direção do clube que, ao aceitarem, validarem ou — pior — normalizarem esta situação, tornam-se cúmplices. Se a restante direção acha isto “normal”, então temos um problema estrutural e ético que ultrapassa um único nome: é sinal de que a direção, como coletivo, deixou de ver o clube como um bem comum dos sócios e passou a olhar para o clube como transação e um lugar de acomodação de vaidades.
  1. Conflito de interesses: uma pessoa que participou da transformação e alienação da SAD não pode, com legitimidade, presidir a sociedade que resultou dessa alienação. É como vender uma casa e, dias depois, sentar-se à cabeça da imobiliária que a comprou — em que papel está a defender os sócios? 
  2. Quebra de confiança: os sócios confiaram poderes à direção do clube; essa confiança não pode ser esvaziada por manobras que beneficiam interesses externos. A legitimidade da governação do clube baseia-se em transparência e em defesa inequívoca dos interesses da coletividade. Como é que Alexandrina Cruz poderá defender os interesses do clube se em certos momentos os interesses do clube poderão ser os contrários da SAD?
  3. Normalização do erro: quando a direção, em bloco, aceita que isto “é normal”, instala-se uma cultura de impunidade. O risco é a institucionalização de práticas onde o clube é meramente instrumento de negócios e não uma comunidade com deveres e memória.

Exemplos de outras SAD em que o Presidente da SAD é o mesmo do clube? Não tenho conhecimento de nenhum caso em que aconteça o clube ser acionista minoritário o processo de condução de alienação (da maioria da capital) ter sido conduzido pela futura presidente (indigitada pelo grupo de investimento) dessa sociedade.

Eis o que exijo, com urgência e sem ambiguidades:

  1. Demissão imediata de Alexandrina Cruz do cargo de presidente do Rio Ave FC. Não existe solução intermédia aceitável: incompatibilidades sérias requerem medidas imediatas.

  2. Assembleia Geral Extraordinária convocada imediatamente pelos órgãos competentes, para os sócios exigirem esclarecimentos formais de todo este processo, com presença obrigatória dos membros da direção.

  3. Divulgação pública e integral dos termos da venda/contrato que originou a transferência da SAD ao fundo — quem comprou, por quanto, todas as clausulas e com que garantias para o clube. Transparência total. (Acordo Parassocial) 

  4. Independência temporária da gestão: até resolução definitiva, criada uma comissão independente (preferencialmente com sócios e elementos reputados, sem conflitos) para garantir que as decisões que afetam o clube não sejam feridas por interesses cruzados.

À restante direção digo isto com clareza: aceitar este estado de coisas, fingir que nada se passa ou procurar “justificar” a nomeação com subterfúgios é uma traição aos sócios. Se a direção acredita que isto é normal, então que saia. Não peçam aos sócios que confiem em quem banaliza conflitos de interesse. Confiar é coisa séria; governar um clube como o Rio Ave FC exige pudor, separação de poderes e serviço público — não a promoção de interesses entre empresas e presidentes.

Um trabalhador vende parte de uma empresa a outra entidade e depois vai presidir à empresa para a qual vendeu tendo decido o preço e as condições de venda ao seu novo "empregador"? Onde está a independência? Onde está a separação de funções? Onde está a defesa dos interesses do Rio Ave Futebol Clube e dos seus sócios?

Não há espaço para desculpas, não há espaço para esperar. A incompatibilidade é evidente!
Não há espaço para meias palavras: Demissão, transparência e responsabilização. Hoje.