A Rio Ave SAD anunciou hoje Matteo Tognozzi como “novo diretor desportivo do clube”. Perfeccionismos à parte — na verdade, da SAD e não do clube — esta notícia não surpreende. Afinal, já tínhamos dado nota da sua chegada na semana passada, e só agora o clube oficializou o processo.
A questão, no entanto, não é a contratação em si, mas antes o emaranhado de cargos, funções e sobreposições que a Rio Ave SAD tem vindo a criar nos últimos meses. A sensação é de que existem demasiados anúncios, demasiadas figuras, e poucas clarificações sobre quem manda, em quê, e com que responsabilidades.
A cronologia da confusão
- 3 de julho: foi apresentado Ignacio Beristain como CEO da SAD, com funções de gestão global e lugar no Conselho de Administração. O Rio Ave escreveu: "Aos 51 anos, Ignacio Beristain assume lugar de elevada responsabilidade na Rio Ave FC SAD, encabeçando a gestão dos diferentes departamentos profissionais. Fará ainda parte, como administrador executivo, do Conselho de Administração."
- 3 de setembro: em plena Agrosemana, surge a novidade de que Vítor Gomes era “assessor técnico”.
- 22 de setembro: o clube anuncia oficialmente Matteo Tognozzi como diretor desportivo. Curiosamente, Beristain não aparece em nenhuma das fotos da apresentação, mas Alexandrina Cruz — que no ano passado não teve sequer autorização para marcar presença no arranque da época — surge em destaque ao lado do novo dirigente.
- Pelo meio, Lina Souloukou já visitou o clube e, sem anúncio oficial, foi dada como administradora executiva por vários órgãos de comunicação.
Se a isto juntarmos que o site da SAD continua a listar nomes de administradores que já não têm funções (Boaz, Diogo Ribeiro e Henrique Maia), percebe-se bem o retrato de desorganização.
Sobreposições e disputas de espaço
O resultado desta teia é simples: funções que se sobrepõem, um CEO que parece ter perdido protagonismo, assessores que são anunciados em eventos laterais, e dirigentes que surgem e desaparecem conforme a conveniência.
No caso de Tognozzi, o seu papel vai muito para além do scouting — área que no universo Marinakis é liderada por Edu. A entrada do italiano só reforça a ideia de duplicação de cargos e potenciais choques internos.
Entretanto, Alexandrina Cruz, com a sua diplomacia e jeito para se movimentar entre os vários protagonistas, vai ganhando espaço.
O meu prognóstico
Por acreditar que Marinakis sabe o que está a fazer — ou pelo menos por querer acreditar — deixo aqui a minha previsão para os próximos dois meses:
- Alexandrina Cruz poderá ser nomeada presidente da SAD, mas sem poder executivo real, servindo essencialmente de rosto público.
- Beristain parece já ter perdido força; não seria surpreendente ver fricções com Tognozzi a curto prazo e a longo prazo sair
- Vítor Gomes, figura de estima junto dos adeptos, ficará num papel secundário, mais simbólico do que efetivo, para suavizar a perceção de rutura com as referências históricas do clube.
No final de contas, a sensação é a mesma: são demasiados galos para o mesmo poleiro.
E quando assim é, a dúvida instala-se: quem canta mais alto dentro da SAD do Rio Ave?