1.10.24

Nilson Fernandes: O cabo verdiano que vive noutro continente mas que diz ser Rioavista!

1. Nilson, tenho começado sempre as entrevistas com a mesma pergunta e por isso vou-te fazer a mesma pergunta. Como é que alguém que vive no Mindelo, Cabo Verde, se apaixona pelo Rio Ave FC? Como e quando é que surgiu esta paixão?

A minha paixão surgiu quando eu tinha 13 anos, gostava de ouvir relatos e por acaso surgiu o nome do Rio Ave numa transmissão da Antena 1. Ouvi o nome Rio Ave e não consigo explicar porquê que me apaixonei logo pelo clube sem saber sequer como era a camisola, nem a cor do clube. Hoje em dia, não sou só eu que torço pelo Rio Ave. Toda a minha família cá em casa é Rio Ave: eu, a minha mulher e os meus três filhos.


2. A tua ligação aos adeptos é grande. Comecei a fazer estas entrevistas com um outro adepto do Rio Ave que não vive em Portugal (James Bambrige) e foram várias as pessoas que me disseram: tens de entrevistar o Nilson Fernandes. Eu já conhecia a tua paixão assim como a tua história e tinha intenções de te entrevistar mas achei incrível como tanta gente me disse a mesma coisa: "Tens de entrevistar o Nilson Fernandes". Como é que surgiu esta ligação aos adeptos do Rio Ave? Até já vi pelo menos um que te visitou em Mindelo (Cabo Verde)
Eu comecei a comentar na página do facebook do Rio Ave e uma adepta chamada Dina Maciel, que é muito minha amiga, começou a falar comigo. Depois mais adeptos começaram a falar comigo para me conhecer a as amizades nasceram assim. Para eles era estranho verem uma pessoa que não era de Vila do Conde, que era de Cabo Verde, que nunca tinha estado em Vila do Conde comentar tanto e puxar tanto pelo Rio Ave. Então começaram primeiro a respondermos aos comentários, depois começaram a falar comigo pelo Messenger, depois a enviar-me vídeos dos jogos e ambiente no estádio, começamos a fazer chamadas e a amizade ainda se mantem hoje. Tenho muitos amigos: A Dina Maciel, o Filipe Frota, a Rosa Frota (um abraço muito forte para a Rosa que envia-me camisolas do Rio Ave), o João Terroso, o João Borges, são muitos.


3. Em tempos, falou-se da possibilidade de vires a Vila do Conde conhecer o clube e conhecer a cidade. Até foi uma promessa da direção do clube na pessoa do Ex-Presidente António Silva Campos. Pagariam-te não só a viagem como a estadia e todas as despesas no período que cá estivesse. Mas acabou por não acontecer. O que se passou?
Não, não aconteceu e o meu maior sonho é conhecer o clube e o estádio. Há três anos o ex-presidente do Rio Ave, António Silva Campos, fez os possíveis para eu ir passar férias em Vila do Conde e realizar o meu sonho de visitar a cidade e o clube. Mas nesse ano, houve problemas de corrupção com os vistos em Cabo Verde e a maioria das pessoas acabou por não conseguir viajar para Portugal. Agora está tudo mais fácil mas infelizmente não tenho condições financeiras para ir para Portugal. 



(A promessa)


4. A maior parte dos membros da ex-direção transitou para a nova direção. Alguém já falou contigo para te dar algum feedback ou fazer ponto de situação?
Desde a saída do ex-presidente António Silva Campos que nunca mais fui contactado. Ainda falei com o Sr. Vítor Ramos (Diretor de Comunicação) mas ele disse-me que agora ia ser muito difícil levarem-me até Vila do Conde e Rio Ave porque muita coisa mudou. Tentei também contactar outro diretor, mandei-lhe mensagens mas nunca tive resposta.


5. A ideia que eu tenho, é que em Cabo Verde, a maioria das pessoas são adeptas ou do Benfica, ou do Porto ou do Sporting. Certamente que não é normal existirem adeptos do Rio Ave em Cabo Verde. Conheces mais algum adepto do Rio Ave para além dos teus familiares?
(Riu-se) Em Cabo Verde quase de certeza absoluta que não existe mais nenhum adepto do Rio Ave. Sou o único. Aqui são todos do Benfica, Porto ou Sporting.


6. A Liga Caboverdiana, tem apenas duração de pouco mais de 2 meses durante o ano. Os clubes principais, têm muita influência portuguesa não só nos nomes como nos emblemas. O boavista FC Praia tem o emblema idêntico ao Boavista, o Sanjoanense tem o emblema parecido com o Belenenses, a Academica do Fogo tem o emblema parecido com o da Académica, o Derby com o Porto, o GD Palmeira com o Sporting etc... Os caboverdianos na ausência de um campeonato próprio duradouro acompanham muito o campeonato português?
Olha, para te ser sincero, eu não sabia que durava tão pouco tempo porque eu não acompanho o nosso campeonato. É muito amador e tem pouca visibilidade. Eu só acompanho mesmo o campeonato português com especial atenção para o Rio Ave.
Mas aqui também tem influência brasileira porque temos equipas como o Botafogo e Palmeiras.
Os caboverdianos na sua grande maioria segue o campeonato português. O campeonato Caboverdiano é muito amador. Não tem muito interesse.

7. É fácil para vocês assistirem aos jogos do campeonato português?
Olha Daniel, aqui em Cabo Verde não há muitas condições. Nós caboverdianos, assistimos aos jogos na televisão de uma forma diferente. Acho que já dá para entender como nós nos safamos


8. Enquanto preparava a entrevista, li em algum lado que antes tinhas muita dificuldade para ver os jogos do Rio Ave porque nem TV tinhas e que apenas conseguias acompanhar os jogos do Rio Ave pelas redes sociais ou pela Rádio Linear e Antena 1. Foi então que os adeptos do Rio Ave (com coordenação do João Terroso) prepararam-te uma surpresa. Podes falar então um pouco disso?
Sim claro. O João Terroso é um grande amigo. Uma vez ele veio cá em trabalho e veio-me conhecer. Eu até tirei uma foto com ele a beber uma cerveja. Continuei a falar com ele muitas vezes e numa das conversas ele percebeu que eu não tinha televisão em casa para ver o Rio Ave. Ouvia só pela Rádio. Então em 2017, quando ele voltou a Cabo Verde ligou-me e disse que estava cá para ir ter com ele que tinha uma coisa para dar. Pensei que fosse uma camisola mas não era só isso. Ele tinha consigo uma televisão plasma para me dar. De 32 polegadas. Ainda hoje utilizo essa televisão para assistir aos jogos do Rio Ave. Estou muito grato. Foi um grupo de adeptos que fizeram uma vaquinha para me dar a TV. Quando estou a trabalhar, ligo a rádio para ouvir o relato. Ouço na AMS Radio.
Mas olha, deixa-me dizer também que não veio só a televisão. Também me deram brinquedos para as minhas filhas. Vieram muitas coisas. Mesmo muitas.
Foi muito bom, ainda por cima eu não conheço pessoalmente ninguém para além do João Terroso.


(Nilson Fernandes com o sócio João Terroso em Cavo Verde)


9. Para finalizar, queres deixar algumas palavras para os adeptos do Rio Ave? Alguém em especial?
Quero deixar um abraço para todos os adeptos do Rio Ave. Quero muito conhecer-vos. Este ano acredito que vamos conseguir mais e melhores feitos. Um abraço especial para à Rosa Frota.