15.9.24

Até quando a gratidão justifica o medíocre?




Até quando a gratidão justifica o medíocre?

Vamos ao primeiro caso, Luís Freire. No primeiro ano, Freire subiu o Rio Ave da segunda para a primeira divisão. Uma subida esperada, diga-se de passagem, já que contava com o maior orçamento de sempre para uma equipa da segunda liga. Mas, mérito é mérito, e o objetivo foi cumprido. Até aqui, tudo certo. O problema é que, desde então, jornada após jornada, assistimos a um futebol que roça o desespero. E a desculpa é sempre a mesma: “Mas ele subiu a equipa! Mas ele cumpriu os objetivos”.

Por quanto tempo mais vamos usar essas conquistas como escudo? Será que uma subida apaga todos os erros que se seguem? Porque, convenhamos, há algo profundamente errado quando o principal trunfo de um treinador continua a ser algo que aconteceu em épocas passadas, enquanto o presente se arrasta numa teia de exibições "desinspiradas". A gratidão é bonita, mas não pode ser eterna.

E agora olhemos para o caso de Fernando Santos, o homem que nos trouxe o tão desejado Euro-2016. Uma conquista histórica, sem dúvida. Mas… a que custo? Durante anos, Portugal jogou um futebol enfadonho, apático, que nada condizia com a qualidade de jogadores que tínhamos à disposição. E, no entanto, Santos manteve-se firme no cargo, protegido pela gratidão nacional. "Ganhámos o Euro, temos de ser gratos." Sim, claro. Mas até quando? Porque, enquanto nos agarrávamos a essa glória, perdíamos ano após ano de talento desperdiçado, sem conseguir dar o salto que a nossa seleção merecia. E hoje, todos nós temos consciência que a gratidão se prolongou muito no tempo.

E aqui está o paralelo. Luís Freire, tal como Fernando Santos, vive sob o manto da gratidão. Sim, subiu o Rio Ave, mas será que isso significa que estamos condenados a suportar exibições medíocres indefinidamente? Até quando a memória de um feito do passado vai sufocar a crítica necessária do presente? A gratidão é importante, mas também precisa de saber quando dar lugar à exigência.

Porque, no fundo, há uma pergunta que devemos fazer: quanto tempo mais vamos permitir que a história continue a ser desculpa para o presente?