Nos tempos de outrora, o Senhor Rodrigues era o timoneiro. O homem da palavra, do peito cheio e do comando firme. Pelo menos era o que nos fazia acreditar. Quando o vento soprava a favor e o mar estava calmo, lá estava ele na proa, de sorriso confiante e pose de quem sabia exatamente para onde conduzia a caravela. Era, como ele próprio diria, o comandante de um barco sólido, cheio de tradição e valores.
Mas eis que vieram os novos tempos, as novas regras e... um novo dono para o barco. Desde então, a caravela que outrora navegava orgulhosa pelas águas do futebol português parece ter mudado de rumo – e de tripulação. Sai um jogador histórico, entra um jovem promissor de terras do investidor. É natural, dizem alguns. Quem paga, manda. E, sejamos francos, até faz sentido que o investidor queira valorizar os seus próprios jogadores. Nada contra isso.
O que intriga é o silêncio ensurdecedor do nosso comandante. Sim, o mesmo Senhor Rodrigues que aparece nas fotos das festas e das homenagens, sempre impecavelmente vestido e estrategicamente posicionado. Quando se trata de sorrir para a câmara, nunca falha. Mas quando o assunto é explicar aos adeptos porque é que estamos a despedir-nos de jogadores emblemáticos, que tanto deram ao clube, o comandante prefere recuar para a sombra do mastro.
As redes sociais estão em chamas, e os sócios e adeptos clamam por respostas. Mas o Senhor Rodrigues não toma partido. Não oferece uma palavra de conforto, uma justificação ou sequer um comentário que ajude a apaziguar os ânimos. Talvez esteja a praticar a arte do desaparecimento estratégico – aquela habilidade de se fazer invisível quando os temas são incómodos. Ou será que, na verdade, ele já não tem palavra a dar porque quem manda agora está do outro lado do oceano?
E então, onde anda o comandante da caravela? Será que trocou o leme por um assento confortável na tribuna, onde se limita a aplaudir e a acenar? Será que espera que as tempestades passem sozinhas enquanto ele mantém o sorriso impecável e o silêncio estratégico?
É curioso como o silêncio de quem se diz líder é proporcional à falta de poder real que tem na condução desta nova caravela. A verdade é que, nesta fase, parece que o Senhor Rodrigues não está a comandar nada. Apenas se deixa levar pela corrente, aproveitando os momentos de sol para aparecer nas fotos. Afinal, quem precisa de um comandante quando a caravela já navega com outro capitão?
No entanto, não nos esqueçamos de que, para muitos, ele ainda é o rosto do clube. E com esse estatuto, talvez os sócios merecessem mais do que o silêncio de um homem que se diz líder. Porque, se até a caravela precisa de remadores, não será pedir muito que o suposto comandante, pelo menos, mostre que ainda está a bordo.
Recorda as outras crónicas sobre o Sr. Rodrigues (quando o comecei a fazer, ainda não escrevia no Reis do Ave).