Partilho já com o leitor que este artigo pode ser um pouco mais extenso e técnico do que costuma ler. No entanto, acho que é muito relevante a sua leitura.
Nos últimos anos, John Textor tornou-se uma das figuras mais populares do novo futebol globalizado: um investidor norte-americano com uma rede de clubes espalhados por vários continentes, incluindo o Botafogo (Brasil), Olympique Lyonnais (França), RWDM (Bélgica) e, até recentemente, uma posição relevante no Crystal Palace (Inglaterra). Mas o castelo está a abanar – e as consequências prometem ser profundas.
Há uma sociedade criada para o propósito, que detém a participação destes clubes. (Eagle Football Holdings - EFH).
Apesar de ainda manter a maioria do capital desta sociedade, John Textor foi forçado a ceder o controlo operacional à ARES Management, a empresa que lhe emprestou mais de 500 milhões de dólares.
A ARES, que passou a dominar a EFH, terá mesmo forçado a venda da posição de Textor no Crystal Palace (43%), comprada recentemente por Woody Johnson (proprietário dos New York Jets) por cerca de 190 milhões de libras. As receitas dessa venda, dizem os media, foram diretamente para a ARES.
A EFH está, neste momento, afogada em dívidas: mais de 1,2 mil milhões de dólares, incluindo 493 milhões à ARES (com juros de até 19,4%) e 75 milhões a outra socidade - Iconic Sports (com juros de 11%).
Um dos maiores abalos surgiu do próprio Botafogo, que está agora no centro de uma disputa judicial.
A 31 de julho, um tribunal brasileiro ordenou o congelamento das ações da EFH na SAD do clube (90%), impedindo Textor de vender ou negociar a sua posição até que uma dívida de 27,2 milhões de dólares com o clube seja liquidada.
Mais irónico ainda: foi a própria equipa jurídica do Botafogo que avançou com esta ação contra o seu maior acionista (John Textor), numa tentativa de proteger o clube de uma gestão financeira desastrosa.
Novo império a caminho? Marinakis e Rio Ave podem entrar em cena
Perante o colapso da EFH (sociedade que detém as SAD referidas), John Textor estará a planear uma reestruturação, através da criação de uma nova sociedade/holding chamada “Eagle Football Group 2.0”, sediada nas Ilhas Caimão. E o parceiro poderá ser Evangelos Marinakis (estará em negociações para entrar com financiamento.)
O objetivo? Consolidar ativos da antiga EFH – como o Botafogo e o RWDM – e, ao que parece, incluir também a Rio Ave SAD nessa nova sociedade. (Nota: tudo isto referido é num post do Linkedin que foi escrito com base num artigo, ambos da autoria de Jason Stephens, que inicialmente não coloca a Rio Ave SAD no meio destas transações. Ao Reis do Ave, Stephens explicou a diferença: "Os rumores são difíceis de comprovar até que alguma forma de concretização aconteça! Não se trata de uma estratégia de futebol, mas sim de uma estratégia de dois homens: um agarrado à cauda de um ativo valioso e o outro em busca de uma oportunidade de possuir um ativo num mercado próspero! Muitas reviravoltas estão para vir!")
Marinakis, que já tentou adquirir clubes como o Vasco ou o São Paulo, vê no Brasil uma oportunidade estratégica: além de poder recrutar talento jovem, poderia usar o Botafogo como plataforma para alimentar outros clubes da rede, como o Rio Ave ou o Nottingham Forest.
No entanto, há poucas horas (depois de estas possíveis negociações terem sido tornadas publicas e debatidas na imprensa estrangeira), o escritório de advogados de Marinakis veio dizer que, à data de hoje, "Marinakis não tem nenhum negócio com o Sr. Textor. Não há empréstimo, financiamento ou cooperação em torno de ações do Botafogo, propriedade do Botafogo ou constituição de veículos de investimento"
Nota para o facto de dizerem que "não têm nenhum negócio", não afastando portanto, possibilidade de vir a acontecer num futuro próximo.
Conclusão:
O caso de John Textor é um exemplo claro do que acontece quando o futebol se transforma num jogo de engenharia financeira, sem sustentabilidade nem controlo, e mostra também como os clubes podem acabar reféns de investidores instáveis, que entram com capital, mas também com dívidas, processos e opacidade.
Para já são rumores, mas a verificarem-se, teremos a transferência da Rio Ave SAD para uma nova sociedade criada para o propósito sem que o clube (Rio Ave) se possa pronunciar (o que será transferido a empresa proprietária da Rio Ave SAD, a Rah Sports, e que foi criada no momento da aquisição da nossa SAD).
Aconteça o que acontecer, este caso valida o que há muito já partilhei: existe uma longa lista de investidores a brincar ao Football Manager com clubes reais e a transferência da Rio Ave SAD para outras sociedades não depende em nada das intenções/desejos da direção do Rio Ave FC e dos seus associados.