2.11.24

Autonomia de Freire posta em causa

 


O Rio Ave empatou mais uma vez em casa, mas o empate, desta vez, é o que menos importa. A verdadeira questão é o que se passou antes e depois do jogo, algo que transcende a qualidade de jogo e afeta o coração da liderança e autonomia da equipa. Segundo informações, a SAD do clube terá imposto a Luís Freire a inclusão de um jogador no onze inicial, assim como o afastamento de um outro jogador da ficha de jogo, o único ponta de lança suplente disponível. Freire, por seu lado, não teve a coragem de admitir esta interferência da SAD em conferência de imprensa, optando por dizer que todas as escolhas foram suas.

Percebo a posição delicada em que Luís Freire se encontra. Enfrenta um momento de grande pressão, em que tenta desesperadamente agarrar-se ao lugar de treinador e sobreviver a esta fase. É fácil entender que nestas circunstâncias possa evitar entrar em conflito com a estrutura diretiva, tentando, ao mesmo tempo, proteger a sua posição e manter um equilíbrio frágil. Contudo, não deixa de ser desanimador que um treinador se submeta a este tipo de decisões sem ter a coragem de as expor, optando por um discurso que não corresponde à verdade.

O papel de Freire neste episódio deveria ter sido, ao contrário, uma demonstração de caráter e independência. Se quer defender a sua imagem de treinador e a sua integridade profissional, Luís Freire precisa de dar um passo em frente e mostrar onde realmente se encontra a linha entre as decisões técnicas e as ordens impostas. Um verdadeiro líder não se limita a seguir instruções, especialmente quando estas afetam diretamente a sua autonomia e as suas escolhas. E este momento é precisamente o teste de carácter que define um treinador. Se já não é ele quem decide que jogadores entram ou saem de jogo, então não há que hesitar: Freire deveria pôr o seu lugar à disposição e assumir que faz essa escolha precisamente porque deixou de ter o controlo sobre a equipa.

Eu, pessoalmente, não sou um fã do trabalho de Luís Freire, mas reconheço que a situação ultrapassa questões de simpatia ou qualidade técnica. Trata-se de dignidade e de respeito por quem assume o cargo de treinador. A partir do momento em que um técnico é forçado a abdicar da sua autonomia, estamos a enfraquecer não só a sua liderança como também a estabilidade da própria equipa. A confiança, num clube, deve ser plena: ou se confia no trabalho do treinador e nas suas escolhas, ou então há que optar por uma mudança clara e transparente.

Luís Freire tem uma escolha a fazer: ou submete-se a estas imposições da SAD ou toma uma posição firme e transparente, mostrando aos sócios e adeptos que, para ele, a autonomia e a integridade profissional são inegociáveis.

É nestes momentos que se vê a força de um treinador. Se Luís Freire escolher o caminho da independência e da verdade, ao invés da subserviência, terá ao menos conquistado o respeito de todos aqueles que acreditam que o papel de um técnico é, antes de mais, o de liderar.