Ano após ano, o que os números comprovam é aquilo que os olhos dos sócios e adeptos mais atentos já há muito viam: as bancadas do nosso estádio estão cada vez mais vazias.
Os dados mais recentes não deixam margem para dúvidas. A época 2024/25 registou uma média de apenas 2.591 espectadores por jogo – o valor mais baixo dos últimos 10 anos. O total acumulado da época mal ultrapassa os 44 mil espectadores, uma quebra evidente face à época anterior. Os números falam por si: há um afastamento crescente entre o clube e a sua massa associativa.
Esta tendência, apesar de tão visível, continua a ser ignorada ou negada pela Direção, que se escuda em discursos de circunstância e publicações nas redes sociais que tentam transmitir um imagem diferente do que se vive. Mas enquanto se elogia o “sucesso” nas redes sociais, o estádio vai esvaziando.
Mais preocupante se pensarmos o contraste com o período pré-eleitoral, onde se assistiu à entrada de muitos de novos sócios. Seria legítimo esperar que tal reforço se traduzisse em mais gente nas bancadas. O que se viu, porém, foi o oposto: esses sócios desapareceram logo após o ato eleitoral. A conclusão é inevitável — muitos inscreveram-se apenas para votar. O seu envolvimento com o clube termina aí.
E se dúvidas houvesse sobre o distanciamento real destes novos associados, basta visitar a loja do clube: desde janeiro que foi lançado um novo cartão de sócio. Mas os cartões continuam por levantar. Muitos — talvez mesmo a maioria dos novos sócios dos últimos dois anos — nem sequer deram esse passo básico. Um sinal claro de ausência de ligação ao clube, mas também de uma gestão pouco eficiente e sem visão. Em vez de imprimir cartões apenas quando os sócios renovassem quotas, como seria lógico e financeiramente responsável, optou-se por imprimir cartões para todos, incluindo sócios inativos e com erros, como já aqui foi denunciado. Resultado? Mais um desperdício de recursos.
E por falar em recursos, importa lembrar: desde o início do ano que o clube tem investido milhares de euros numa campanha de angariação de sócios. O retorno é uma incógnita. Não se sabe ao certo quantos novos sócios foram efetivamente conquistados, mas aquilo que já se sabe — e que não se pode esconder — é que esse investimento ainda não teve reflexo nas bancadas. Porque a ligação ao clube não se constrói com campanhas publicitárias, mas com transparência, com respeito, com envolvimento genuíno da massa associativa.
Este fenómeno revela uma fragilidade estrutural: o clube está a perder a sua base fiel, aquela que não depende de eleições ou modas. E isso é perigosíssimo. Porque sem adeptos comprometidos, sem sócios ativos, sem paixão viva, um clube esvazia-se de dentro para fora. E as bancadas, tristemente, vão-se tornando o reflexo mais cru dessa erosão.
É hora de encarar os factos: o Rio Ave está a perder ligação com os seus. Está a falhar na capacidade de cativar, de mobilizar e de envolver os que verdadeiramente gostam do clube. E enquanto a Direção fingir que nada se passa, a tendência só se agravará.
Época | Média por jogo | Total acumulado |
---|---|---|
2024/25 | 2.591 | 44.043 |
2023/24 | 3.149 | 53.532 |
2022/23 | 2.906 | 49.395 |
2021/22 | Ausenta da primeira Liga | |
2020/21 | COVID – Porta Fechada toda a época | |
2019/20 | COVID – Porta Fechada maior parte da época | |
2018/19 | 3.630 | 51.712 |
2017/18 | 3.889 | 66.116 |
2016/17 | 3.954 | 67.215 |
2015/16 | 3.301 | 56.125 |
2014/15 | 2.968 | 50.458 |