Durante muitos anos, era natural vermos nas camadas jovens do Rio Ave rostos familiares: miúdos de Vila do Conde que cresceram a sonhar com o clube, que davam os primeiros toques na bola no antigo pelado ou no pavilhão, que vestiam a nossa camisola antes mesmo de saberem o peso que ela representava. E, de quando em vez, alguns desses jovens chegavam às equipas seniores — no futebol, no futsal — formando uma identidade muito própria, uma ligação emocional que nos orgulhava.
Com o tempo, essa realidade mudou.
Hoje, cada vez menos atletas da nossa terra representam o clube, sobretudo no futebol, tendência que se acentuou nos últimos dois anos com a entrada da SAD. A verdade é que o “desaparecimento” de jogadores formados localmente é evidente. Tornou-se raro encontrar alguém nos quadros do clube que tenha crescido connosco, estudado connosco, jogado connosco.
É por isso que a afirmação de Dinis Ramos na equipa sénior de futsal ganha ainda mais significado.
Não se trata apenas de um jogador que está a fazer uma excelente época.
Trata-se de um símbolo. De alguém que devolve ao Rio Ave uma parte da sua essência.
O Dinis, juntamente com os regressos do Tiago e do Gustavo, representa o que muitos adeptos sentem falta: jogadores da casa, formados na nossa realidade (ainda que parte no Caxinas), que conhecem a cidade, que sentem o clube e que sempre fizeram parte da nossa história.
Mesmo com a chegada de um reforço bem cotado para o seu lugar — Peixinho — o Dinis não se intimidou. Fez exatamente aquilo que se espera de quem tem orgulho em vestir esta camisola:
trabalhou, lutou pelo lugar e conquistou-o em campo.
E tem justificado cada minuto.
Os números falam por si: 4 golos em 8 jogos de campeonato, mas mais do que isso, exibições de enorme qualidade, intensidade e compromisso.
Confesso que me dá um prazer especial vê-lo jogar.
Vê-lo ali, de verde e branco, faz-nos reviver outros tempos do clube, quando a ligação entre jogadores, cidade e adeptos era mais forte, mais autêntica, mais nossa.
Não sei o que o futuro lhe reserva — é jovem, tem apenas 27 anos, e é natural que sonhe com voos maiores. É legítimo. Mas enquanto estiver aqui, que seja valorizado. Que tenha o reconhecimento que merece. E, pessoalmente, não escondo que gostaria de o ver um dia assumir a braçadeira de capitão. Ainda que o Pedro desempenhe essa função com competência, o Dinis tem aquilo que não se treina: identidade rioavista e sangue vilacondense.
Que continue a dar-nos orgulho.
E que continue a lembrar-nos que o Rio Ave também se faz dos nossos.

