21.7.25

Presenças que falam alto pelo silêncio



Não deixa de ser curioso — ou talvez apenas triste — que as assembleias mais participadas do clube coincidam, invariavelmente, com momentos em que há algo em jogo para a direção. Em ocasiões onde se decide o rumo do Rio Ave, a sala enche-se subitamente, como por milagre. Rostos desconhecidos, que raramente ou nunca se veem nas bancadas, nos jogos, nas discussões do dia a dia ou nas dinâmicas associativas, surgem então com uma convicção firme e um voto já ensaiado. Não vieram para ouvir, muito menos para debater. Vieram apenas para validar.

Este fenómeno tem-se repetido com uma frequência demasiado previsível. Em momentos-chave, assiste-se à mobilização de uma maioria silenciosa — e, mais grave ainda, surda. Porque pouco interessa o que ali é dito. A decisão já está tomada antes de qualquer intervenção. A assembleia deixa de ser um espaço de discussão democrática para se tornar num simples carimbo.

Lamento, por isso, que o clube se vá moldando a este modo de operar: decisões tomadas à margem do verdadeiro debate, participação massiva apenas quando interessa, silêncio e ausência no resto do tempo. Lamento que, em nome de objetivos de ocasião, se promova a mobilização cega e se passe por cima de tudo e de todos — mesmo que isso implique apagar ou manchar o contributo de quem tanto deu ao clube.

Se este é o novo paradigma de participação, então estamos a caminhar para um clube onde a forma vale mais do que o conteúdo, e onde a democracia associativa é apenas uma ilusão bem encenada.