Acabo de regressar do jantar de aniversário do Rio Ave FC. Voltei com o mesmo orgulho de sempre por fazer parte deste clube, agora no seu 86.º aniversário. Mas regressei também com um sentimento de tristeza.
Durante anos, critiquei (como muitos outros) a exclusão dos sócios destes jantares comemorativos. A decisão de reabrir este momento aos associados foi, como escrevi na altura, uma boa medida – justa e merecida. Por isso mesmo, era com expectativa que esperava por esta noite. Uma sala cheia, um ambiente festivo, o reencontro com a tradição.
Mas bastou olhar com atenção à volta para perceber o vazio escondido por trás da sala cheia: descontando dirigentes, atletas, treinadores, convidados institucionais e representantes políticos, apenas 31 sócios do Rio Ave marcaram presença.
Sim, leu bem: trinta e um.
E é aqui que surgem duas reflexões importantes.
Primeira: durante anos, muitos sócios fizeram questão de criticar a exclusão deste evento. Era uma reivindicação legítima. Mas agora que o momento voltou a ser aberto, onde estavam esses sócios? Será que a crítica era genuína ou apenas ruído de ocasião? A reabertura não foi acompanhada pela resposta que merecia.
Segunda: mesmo com o recorde de entrada de sócios no período pré-eleitoral – mais de 1600 novos sócios – a presença continua residual. E isso, infelizmente, só confirma algo que venho escrevendo há algum tempo: o Rio Ave tornou-se um clube cada vez mais elitista, distante da base associativa, desligado da comunidade que o fez crescer. A tal "ligação forte" entre clube e sócios esfumou-se com o tempo, e estas ocasiões, que deviam ser de união, servem apenas para nos lembrar o fosso que se abriu.
Talvez esta ausência massiva de sócios numa noite simbólica deva fazer refletir a senhora presidente e a sua direção. Talvez o problema não seja apenas de desinteresse, mas de identidade. Os sócios não sentem que este Rio Ave lhes pertence. E isso, num clube com esta história, é profundamente preocupante.
Voltar a abrir as portas foi o primeiro passo. Mas recuperar a alma de um clube exige mais do que isso. Exige escuta, inclusão e humildade para perceber que, sem os sócios, não há Rio Ave que resista ao tempo.