26.5.25

No futebol português, a lei não é igual para todos: justiça selectiva



No passado dia 6 de Janeiro de 2025, o Rio Ave defrontou o Gil Vicente para a 17ª jornada da Liga. O jogo terminou empatado 1-1, com o golo do Rio Ave a ser apontado por Aguilera aos 59 minutos. No momento do golo, a alegria tomou conta da bancada visitante – e, talvez por impulso, emoção ou puro amor ao clube, um adepto saltou o muro da bancada. Poucos segundos depois, regressava à bancada, sem se envolver com jogadores ou qualquer elemento em campo. Um acto momentâneo, espontâneo e, ao que parece, inofensivo.




Mas a história não ficou por aí. À saída do estádio, este mesmo adepto foi identificado pela PSP e soube agora que foi autuado com uma multa de 300 euros e punido com uma interdição de entrada em recintos desportivos por 10 meses. Sim, dez meses. Por um salto fugaz ao relvado. Tudo dentro do rigor da lei, certamente – mas será este rigor aplicado de forma equitativa?

Recentemente, vimos um adepto invadir o relvado da Luz durante um dérbi entre Benfica e Sporting. Este, ao contrário do caso de Vila do Conde, passeou-se tranquilamente pelo relvado, procurou confrontar o árbitro e permaneceu durante vários minutos em campo. A PSP, nesse momento, afirmou não ter conseguido identificar o indivíduo. Curioso, já que o mesmo foi filmado de todos os ângulos possíveis... e até deu entrevistas televisivas nos dias seguintes. Identificá-lo? Não conseguiram. Ou não quiseram?



Outro exemplo recente ocorreu no jogo entre o AFS e o Boavista, onde dezenas de adeptos invadiram o relvado no final da partida. Permaneceram largos minutos em campo, festejaram com jogadores, tiraram fotografias, fizeram diretos nas redes sociais. Quantos foram identificados? Quantos foram autuados? Quantos estão hoje impedidos de entrar em recintos desportivos? 




É importante sublinhar: este texto não serve para desculpabilizar o adepto do Rio Ave. Quebrou uma regra, há consequências. Mas exige-se equidade na aplicação dessas mesmas regras. Exige-se um critério claro, igual para todos, que não dependa do clube, do número de câmaras, ou da cor da camisola. Porque se uns são punidos com todo o peso da lei e outros passam impunes... então estamos a criar um futebol de dois pesos e duas medidas.


E no meio disto tudo, onde está a presidente do Rio Ave? Aquela que defende os interesses do clube quando lhe convém, agora mantém-se em silêncio. Será que, mais uma vez, prefere ficar sentada nos bastidores do jogo político em vez de tomar uma posição firme e clara em defesa dos seus adeptos?

O futebol não pode ser isto. Não pode continuar a ser isto. Ou aplicamos a lei a todos da mesma forma, ou deixamos de fingir que existe justiça no desporto.