12.5.25

A despedida do maior responsável desta paixão que tenho pelo nosso Rio Ave


Na próxima sexta-feira, o nosso capitão, Vítor Gomes, jogará pela última vez com a camisola do Rio Ave. Termina assim a carreira de um jogador que, mais do que atleta, é símbolo do nosso clube. E para mim, muito mais do que isso: é um dos grandes responsáveis pela paixão que tenho pelo Rio Ave Futebol Clube.

Tinha eu 14 anos quando o Vítor foi meu companheiro de carteira no 9.º ano. Já gostava do Rio Ave, é certo, mas foi ele quem me fez disputar esse gosto, aprofundar esse sentimento. Todas as segundas-feiras, o Vítor contava como lhe tinha corrido o fim de semana desportivo. Para um miúdo como eu, era o melhor início de semana possível. Ouvir o meu amigo falar dos seus jogos nas camadas jovens era inspirador. E claro, havia sempre o interesse em saber como tinha corrido a equipa sénior, onde jogava o irmão do Vítor, o Zé Gomes.

Aliás, foi mesmo o Vítor que me deu a primeira camisola do Rio Ave — a do irmão, autografada por ele. Essa camisola, com que festejei o regresso à Primeira Liga em 2022, nunca me foi devolvida após um pedido que fiz a um familiar seu para que o Vítor a autografasse também (quando estavam no relvado). O familiar, no meio dos festejos no relvado, entregou a camisola ao Vítor e nunca mais a vi. Talvez seja justo assim: pertence ao capitão.

Naquela altura, o Vítor era a vedeta da turma. Jogava no Rio Ave, era internacional, uma promessa do futebol português. Mas nunca teve a mania que outras promessas — com carreiras bem menos longas — vieram a demonstrar. Queria ser apenas mais um rapaz a terminar o 9.º ano. E, com a minha ajuda nos testes (que ele me perdoe esta inconfidência), lá o conseguiu.

Os caminhos afastaram-nos, naturalmente. Ele seguiu a carreira no futebol, eu continuei os estudos. Mas o mais admirável no Vítor é que, mesmo com o passar dos anos, sempre que nos cruzámos — com ele no Rio Ave ou noutro clube —, parava, cumprimentava, conversava. Nunca me esqueceu.

O Vítor representou o Rio Ave durante cerca de duas décadas. Saiu algumas vezes, mas voltou sempre. Voltou quando o clube mais precisou — quando caímos para a Segunda Liga — e voltou como capitão, ajudando a levar-nos de novo para o lugar a que pertencemos.

O Vítor fez muitos jogos, é verdade. Mas mais do que os jogos, foi a forma como os jogou. Como nos representou. Com orgulho, com respeito, com identidade. Algo que, nos dias de hoje, vai faltando no balneário.

É pena que termine a carreira. Não porque ainda tenha muito para dar dentro de campo (acredito até que sim), mas porque fora dele representa tudo aquilo que o Rio Ave deve ser.

O Vítor é e será sempre um símbolo. Começou a sua caminhada no Rio Ave em criança. Termina-a agora, no mesmo sítio onde tudo começou. Há algo de belo nisto.

Não sei se o Vítor continuará ligado ao clube, mas sei que merece uma homenagem à altura. E por isso, deixo um apelo à presidente do clube: que promova algo mais simbólico, mais próximo da nossa casa. Um momento na sede do clube, por exemplo. Porque o Vítor merece mais do que uma despedida longe, a meio da semana.

Obrigado por tudo, capitão. Por tudo o que fizeste dentro e fora do campo. E por teres sido o empurrão inicial desta paixão que tenho pelo nosso Rio Ave.

Obrigado, Vítor.