Hoje, o Rio Ave defronta o Vitória às 20h45. À primeira vista, não parece um horário invulgar – afinal, é o horário “clássico” da segunda-feira, dia que a Liga Portugal insiste em utilizar. Mas olhemos com atenção: estamos a meio da semana, em pleno dia de trabalho para a maioria das pessoas, e o jogo só terminará depois das 23 horas. Contas feitas, entre os 90 minutos regulamentares, os 15 minutos de intervalo e eventuais compensações, ninguém sairá do estádio ou do sofá antes das onze da noite.
Para quem trabalha no dia seguinte, a gestão torna-se complicada. Quem vai ao estádio sabe que o regresso a casa é tardio, sobretudo para os adeptos que acompanham as suas equipas fora de portas. E aqui está o grande problema: que serviço presta a Liga ao futebol ao marcar jogos para horários tão desajustados? A resposta, infelizmente, é óbvia – um mau serviço.
O futebol, que deveria ser um espetáculo acessível, vive cada vez mais desconectado daqueles que o sustentam: os adeptos. Jogar tão tarde, a meio de uma semana, exclui automaticamente crianças, famílias e até trabalhadores que gostariam de estar presentes, mas que simplesmente não podem. É, também, uma dificuldade acrescida para os clubes, que acabam a disputar jogos em estádios esvaziados, sacrificando o ambiente que dá vida ao espetáculo.
É verdade que os horários são, muitas vezes, ditados pelas exigências televisivas, mas até aqui seria possível encontrar soluções que não penalizassem os adeptos. Quem sai beneficiado com jogos à segunda-feira, às 20h45? Certamente não são os que, com sacrifício, compram bilhetes, fazem quilómetros ou simplesmente acordam cedo no dia seguinte para cumprir a sua rotina.
O futebol português, se realmente quiser aproximar-se dos seus adeptos, tem de olhar para estes horários e reconhecer o erro. É preciso repensar o calendário, ajustar jogos a dias e horas que respeitem quem realmente importa. Enquanto isso não acontecer, continuarão a prestar um mau serviço ao futebol – um espetáculo que, sem o adepto, simplesmente não existe.