3.12.24

Niquinha: o brasileiro que conquistou o meio campo e o coração Rioavista





1.  Niquinha, começo sempre da mesma forma com ex-jogadores. Como é que tu estás? E a tua família? O que fazes atualmente?
Daniel, prazer em falar contigo. Saudades dessa cidade maravilhosa e do nosso grande Rio Ave. E também é um prazer falar da nossa história. Assim também o pessoal não se esquece do Niquinha.
Hoje, para além do futebol de fim de semana que eu continuo a jogar e que tão bem me faz tenho uma escola de futebol.  A escola é diferente do habitual porque não é uma escola para gente jovem. Como sabes, aqui no Brasil temos muita gente a praticar este desporto maravilhoso e que compete mesmo a nível amador. Essas pessoas gostam de jogar futebol, aprender sempre alguma coisa e manter a sua aptidão física. Então eu criei uma escola/academia em que treino um grupo de cerca de 30 pessoas. São três treinos semanais e esta é a minha atividade. Tenho uma área preparada para receber esses treinos e também tenho experiência para ajudar esta malta.
Em termos de família, estou com a minha esposa e filha (que nasceu em Portugal) e estão ambas bem. A minha mulher trabalha no banco.


2. Acabaste a carreira há 14 anos. Tens saudades de jogar futebol ou foram tantos anos a jogar como profissional que te fartaste?
Sinto mesmo muita falta, foram muitos anos a jogar futebol mas eu adoro este desporto. Foi um momento da minha vida lindo e que recordo com saudades.

3. Chegaste ao Rio Ave com 25 anos, vindo do Manchete. Tentei procurar a informação mas não encontrei. Em que divisão o Manchete jogava no ano de 1997? Como é que surgiu o Rio Ave? Alguém te foi ver e falou contigo ou foi um empresário que te colocou no Rio Ave?
Estava há um ano Manchete que jogava na 1ª divisão do campeonato Pernambucano. No final da temporada surgiu a oportunidade de ir para Portugal jogar. A oportunidade surgiu por acaso. Havia um empresário chamado Rogerio Lopes que trabalhava muito com Portugal e mandava muitos jogadores do Recife. Na altura o Rio Ave tinha interesse em outro jogador da minha equipa e esse empresário procurou-me para saber se eu tinha vídeos (cassete) dos nossos jogos porque o Rio Ave estava interessado no extremo esquerda - Chamava-se Lau. Eu disse que tinha e acabei por ceder as cassetes. As cassetes foram enviadas para o Rio Ave e Guimarães. Passado um tempo o Rogério ligou-me a pedir para ir ter com ele para dar-me as cassetes de volta. Quando fui ter com ele, ele disse-me: "Niquinha, o pessoal do Rio Ave viu as cassetes mas não está interessado no Lau, não gostaram dele. Mas o presidente gostou muito de ti e perguntou se tens interesse em ir para o Rio Ave." Aí eu disse que tinha interesse até porque tinha acabado contrato com o manchete e acabei por reunir com o Presidente Paulo de Carvalho do Rio Ave, negociamos o contrato e ficou quase tudo fechado. Na altura o treinador era o Carlos Brito e estava de férias. Passado uns dias, falei novamente com o Presidente e ele disse-me que o Carlos Brito se tinha interessado em mim mas que só teria interesse em mim em Janeiro e até lá era emprestado num clube no Brasil. Aí eu disse: ou acredita em mim para ir no início ou então não vou. Com várias negociações durante um mês, acabei por ir para o Rio Ave no início do campeonato. Mas a verdade é que foi tudo um acaso. Não era em mim que estavam interessados inicialmente.


4. ⁠Assim que chegaste ao Rio Ave, qual foi o teu impacto? Foste bem recebido? A expectativa que te geraram correspondia a realidade?
Quando fui convidado para jogar no Rio Ave passaram-me os objetivos do clube e naquela altura o Rio Ave não tinha a dimensão que tem hoje. Era um clube que lutava muito pela manutenção e que era díficil todos os anos para atingir esse objetivo. Eu criei uma expectativa do clube de acordo com aquilo que me contaram e a verdade é que isso se veio a confirmar. Mas deixa-me contar-te o momento em que cheguei ao Rio Ave. Quando cheguei ao aeroporto eu fiquei mais de 4 horas à espera, não correu muito bem. Como eu era estrangeiro o controlo era rigoroso. As coisas eram mais complicadas do que nos dias de hoje. Quando eu cheguei à alfândega mandaram-me para uma salinha e apesar de eu ter as papeladas todas fizeram dezenas de perguntas e deixaram-me lá fechado bastante tempo. Depois chegou o diretor do Rio Ave, o senhor Flores, que conseguiu resolver a situação e pediu-me desculpa pelo incomodo. Fomos para Vila do Conde para me mostrarem onde eu ia ficar, no hotel e um pouco da cidade. E foi nesse momento que me deram o contexto do clube, a sua situação e pelo o que lutavam.
Outra coisa engraçada que te posso contar: quando eu cheguei ao Rio Ave o clube estava a negociar o Dibo, não sei se te lembras de quem era (claro que sim). Era um jogador extraordinário, fora de normal. Mas o que se contava nos corredores do Rio Ave é que quando ele ia à sua selecção o regresso dele para o Rio Ave era muito complicado e por essa razão o Rio Ave estava a tentar negociá-lo. Eu iria ocupar essa vaga mas quando eu o vi a jogar eu vi logo que eu era um jogador completamente diferente e que até jogava numa posição diferente da minha. Fiquei apreensivo. No primeiro ano tive imensa dificuldade porque saí do recife e era 40 graus e cheguei a Vila do Conde era 4/5 graus no inverno. Também chovia muito, o relvado era diferente e as dificuldades foram muitas. Mas depois as coisas foram-se encaixando e penso que me posso orgulhar pelos 12 anos que aí passei.


5. Vamos então falar um pouco desses 12 anos. Na tua terceira época, o Rio Ave desceu de divisão e manteve-se por lá durante 3 épocas sendo que depois voltaria em 2003/2004. No momento da descida de divisão, tiveste convites por parte de outros clubes para saíres dos Arcos? Tu acabaste por ficar 12 temporadas no Rio Ave, mas não houve em nenhum momento vontade de dar o salto para outro clube?
Possibilidade existiu, principalmente quando descemos de divisão porque quando desces de divisão e tens jogadores qual qualidade de primeira é normal alguns clubes contactarem esses jogadores. Durante esses 3 anos, o clube sofreu um bocado e nós jogadores também sofremos. Foram 3 anos muito difíceis. Falta de receita, dificuldade financeiras e a verdade é que nem todos os jogadores aceitam jogar na segunda divisão. Mas a verdade é que quem ficou abraçou a causa e conseguimos ao final de 3 épocas voltar à primeira liga. Mas durante esse período, houve duas ou três abordagens que tive de clubes da primeira divisão. Não me arrependo de não ter saído. Apesar do Rio Ave na altura não ter a dimensão que tem hoje, a verdade é que era um clube cumpridor com tudo com aquilo que se comprometia e portanto em sinto que fui grato com quem sempre cumpriu comigo e por essa razão é que digo que não estou arrependido de ter ficado. Respeitaram-me sempre. 
A cada época que eu renovava eu me sentia feliz e o facto de eu estar à tanto tempo no clube e de ser um dos símbolos do clube não fazia com que eu relaxasse. Eu sempre lutei pelo Rio Ave, treinei e joguei com imensa alegria mas também profissionalismo. O tempo passava (foram 12 épocas) e nunca deixei de me esforçar e talvez seja por isso que tenha tido a oportunidade de ser capitão da equipa, coisa que tenho um orgulho imenso. Poucos jogadores têm essa oportunidade e eu tive.
Por isso posso-te dizer que não me arrependo de nada: faria exatamente o mesmo se pudesse voltar atrás. A única coisa que gostava de pular era a descida de divisão (sorrisos). E corrigir alguns erros que possa ter cometido. Penso que de forma generalizada os adeptos, colegas de equipa e dirigentes gostavam de mim e isso é demonstrativo que a minha passagem no Rio Ave foi muito positiva. Aliás, arrisco-me a dizer que se eu apanhasse agora um avião para Vila do Conde iria ser abraçado por muita gente (risos).

(Niquinha enviou-me uma foto sua com a braçadeira de capitão)

⁠6. Na temporada 2003/2004 ficaram muito próximo do primeiro apuramento europeu do Rio Ave. Vocês ficaram exatamente com os mesmo pontos que a equipa apurada (Marítimo). A desilusão no grupo foi grande? No início da temporada falaram entre vocês a dizer que iam lutar pelo apuramento europeu?
Sim é verdade. Essa época deixou um amargo de boca nos jogadores, adeptos e direção. Conseguimos uma época fantástica e na reta final não conseguimos esse apuramento que iria terminar a temporada com chave de outro que era tão merecido. Lembro-me de falarmos entre nós que seria uma questão de tempo até que o clube conseguisse esse apuramento e a verdade é que anos mais tardes o Rio Ave conseguiu o apuramento europeu. Nós sentíamos que o clube estava a crescer e a criar base sólidas e o Presidente Paulo demonstrava isso para o plantel. Quando o Rio Ave conseguiu o primeiro apuramento, mesmo a milhares de km festejei esse apuramento porque os sócios e o clube merecem. Aproveito para dar os parabéns a todos os atletas e diretores que conseguiram esse objetivo que nós estivemos perto mas que não conseguimos atingir.

7. Este foi o melhor período do Rio Ave na primeira divisão até à entrada da última década. Carlos Brito estava no comando sendo que sai na época na época 2005/2006 e coincidentemente o Rio Ave FC cai novamente na segunda divisão. A dependência dos jogadores de Carlos Brito era assim tão grande? 
Sabes que o Rio Ave nunca foi um clube que despedia muito os treinadores e isso permitia que quem chegasse conseguisse trabalhar da base para o topo. O Carlos Brito conhecia a casa toda: sabia o que a casa tinha, o que a casa gastava, quais eram os seus defeitos e qualidades. Ele fez a sua carreira praticamente no seu Rio Ave. Ele conhecia o clube, os atletas, os sócios e a mentalidade que a equipa tinha de ter. Ele tinha a equipa com ele. Lembro-me por exemplo que ele colocou-me a jogar uma temporada a defesa direito e eu nem questionei. Não mediamos forças com ele: todos nos ajudávamos e ele também nos ajudávamos muito. Para além disso, o Carlos Brito era um "pilar" também no clube. Eu não vou dizer que o clube era dependente do Carlos Brito mas o Mister era muito importante no Rio Ave. O Casamento dava certo. Ele era um treinador acima da média na altura. Ele não era só um treinador, era um gestor.


8. O Carlos Brito regressa novamente ao clube na época em que o Rio Ave FC sobe de divisão - a meio da época - (2008/2009) o que coincide com a tua saída do clube. Houve também mudança de presidentes: sai Paulo Carvalho e entra António Silva Campos. Há relatos em que António Silva Campos não teve a cordialidade necessária com um dos ícones do clube. Ficaste magoado por a maneira como te "dispensaram"? Tiveste algum convite por parte de António Silva Campos para ingressar na estrutura do clube?
Eu não vou dizer que eu fiquei com magoa porque jogadores no clube estão de passagem, faz parte. O Presidente também é igual: passa um ano, três anos dez anos e sai. Ou seja, eu não posso ter mágoa com o clube: eu faço anos e tenho muito adeptos do Rio Ave que vêm dar os parabéns ao Niquinha. Eu tenho a certeza que no dia que sair esta entrevista muita gente se vai lembrar de mim e dizer que gostava de mim. Como é que eu posso ter uma mágoa com o clube, com as pessoas de Vila do Conde? Mas a verdade é que da direção do Rio Ave não há esse reconhecimento e esse cuidado por exemplo. O bem maior de qualquer clube são os adeptos e se eu tivesse mágoa do clube estaria a ser ingrato com quem gosta tanto de mim. O respeito, o carinho pelo Rio Ave existirão sempre. Se um dia for a Portugal podes ter a certeza que dos primeiros lugares que vou é a Vila do Conde e ao estádio do Rio Ave. 
Eu não guardo mágoa com os dirigentes do Rio Ave. Eles têm a palavra final: contratam e dispensam. Eles entenderam dispensar o Niquinha e não tem mal: não vou guardar mágoa. Eu fui muito feliz em Vila do Conde e gosto muito dos adeptos do Rio Ave. Independentemente de quem estava no cargo não me fez qualquer convite é porque achou que eu não acrescentava mais nada.
O orgulho que eu guardo é pelos adeptos do Rio Ave: e eu tenho um carinho enorme pelo adeptos e clube.


9. Há dias falei com o Evandro. Ele chegou ao Rio Ave também com 24 (perto dos teus 25). Perguntei-lhe se achava que se tivesse chegado mais cedo se podia ter dado um salto para outro patamar. Pergunto-te o mesmo: se tivesses chegado 3/4 anos antes achas que tinhas atingido outro patamar?
A possibilidade era grande. Eu cheguei com 25 ou seja significaria que eu chegava com 20 ou 21 anos. Com essa idade as pessoas iriam olhar para mim de outra forma. Até porque chegar com 20 anos iria permitir que tivesse mais tempo para me adaptar. Eu lembro-me que o meu primeiro ano não foi dificil. Se eu fosse mais novo, os clubes poderiam olhar para mim como uma jovem promessa. Agora chegando aos 25 anos, com 1 ou 2 anos de adaptação eu já não era visto como um jovem, "como um investimento". Com 27, 28 anos nenhum jogador é visto como uma jovem promessa. Mas foi o que foi: cada coisa tem um hora para acontecer. Aconteceu quando tinha de acontecer. Fui muito feliz no Rio Ave e tenho de estar agradecido por isso. Guardo memórias muito boas.



10. Queres deixar alguma mensagem para os sócios/adeptos do Rio Ave?
Em primeiro lugar agradecer-te a ti por esta entrevista e por te lembrares de mim. Tal como disse, os sócios lembram-se do Niquinha e esta entrevista é uma prova. Para os adeptos, espero que esteja tudo bem convosco. Durante estes 12 anos trabalhei duro para representar o Rio Ave da melhor forma.
Um grande abraço para os adeptos do Rio Ave, para um clube que amo muito e que representei tanto tempo.



Vídeo de Niquinha



O Reis do Ave enviou duas camisolas para o Niquinha como agradecimento de tudo que fez pelo nosso clube!




2.12.24

Todos os resultados das equipas do Rio Ave (Futebol e Futsal) - 1º Fim de Semana de Dezembro de 2024

SEN. MASC - Liga Portugal Betclic 24/25
12ª Jornada
Rio Ave
3 - 2
Moreirense
Tiago Morais 26', Clayton Silva 46', Vrousai 94'
Aderllan Santos 50 (p.b), Gabrielzinho 65'

SUB-19 - 1ª Divisão Nacional
13ª Jornada
Rio Ave
1 - 4
Famalicão
Franco 75' (g.p)
Jonas Ferreira 25' 95', Telmo Alves 35' (g.p), Tiago Galeiras 46'

SUB-17 - 1ª Divisão Nacional
13ª Jornada
Rio Ave
1 - 1
Famalicão
Aladje Silva 56'
Simão Pereira 43'

SUB-15 - 1ª Divisão Nacional
13ª Jornada
CD Tondela
0 - 1
Rio Ave
Tomás Ferreira 48'

Sub-13 - AF Porto Serie 1
12ª Jornada
Rio Ave
3 - 1
FC Porto
Guga 7', Diogo Bastos 11', Fernando Teixeira 22'
Mateus Esteves 15'

Sub-12 - AF Porto 2ª Divisão Série 4
9ª Jornada
Dragon Force
2 - 1
Rio Ave
Tomás Silva 35', Duarte Menseses 63' (p.b)
Victor Andrade 23'
Sub-11 - AF Porto 2ª Divisão Série 5
9ª Jornada
Folgosa da Maia
0 - 3
Rio Ave
Pedro Neves 21', João Dantas 23', Gustavo Campos 45'

FUTSAL

Séniores Mas - Taça de Portugal
3ª Eliminatória
Rio Ave
3 - 2*
Portimonense
André Luzia 4', Careca 13', Rui Baltar 49'
Zé Luís 18', Divanei 24'

Sub-19 - AF Porto Divisão Elite 1ª Fase
11ª Jornada
Rio Ave
1 - 2
GDCR Escolas de Arreigada

Sub-17 - AF Porto Divisão Honra Série 4 1ª Fase
6ª Jornada
Rio Ave
2 - 0
ACR Santa Cruz do Douro


Sub-15 - AF Porto Divisão Elite 1ª Fase
11ª Jornada
Alfenense
4 - 0
Rio Ave