A opinião de Rui Malheiro:
«Vou restringir-me apenas ao período em que jogamos na 1ª Divisão, até porque a diferença de patamares conta e muito para estas coisas.
1) Biro-Biro. Típica contratação por engano da década de 80. Era sósia da “estrela” do Corinthians e apresentou-se como ex-Atlético Mineiro. Na verdade, vinha do futebol venezuelano. O capitão Duarte está muito mais habilitado do que eu para tecer comentários técnicos, mas limito-me à frase que proferiu na apresentação: «Eu jogo com os dois pés... se não jogasse, eu caía». Zero minutos em jogos oficiais. Ainda fez uma perninha em jogos de pré-época e nas reservas.
2) Rubens Rubão. «O Rio Ave vai ser o trampolim para chegar à Selecção brasileira», disse aos microfones da então Rádio Vila do Conde. Vinha para resolver os problemas do/no ataque do Rio Ave, mas só fez 35 minutos na Liga (derrota em Coimbra). Era demasiado mau. Na época seguinte, a do Rio Ave mais brasileiro de sempre, só treinou.
3) Eufémio Raul Cabral e Faustino Alonso. Tinham sido convocados para o Mundial 1986, mas não efectuaram qualquer minuto no México. A chegada de dois internacionais alimentou o nosso Verão e a curiosidade era imensa: recordo-me de ir ver um dos primeiros treinos. A lenda diz que os jogadores não eram os mesmos. É mentira: eram eles. Cabral fez uma boa carreira em Espanha, com passagens por Burgos, Valencia, Racing Santander, Almería e Hércules. Chegou a Vila do Conde, em fim de carreira, sem condição física. Fez os dois primeiros jogos da temporada, nunca mais jogou e abandonou o futebol. Faustino Alonso vinha rotulado de goleador dos paraguaios do Sol de América. A falta de qualidade técnica era evidente, as deficiências na definição dos lances também. Para a história, fica o golo marcado ao Sporting (fez o 2-2 nos Arcos) – o único em 7 jogos – e, sobretudo, o festejo, em que deu praticamente uma volta ao estádio.
4) Dema e Roberto Coração de Leão. À semelhança do que acontecera na época anterior com os paraguaios (86/87), a chegada de dois internacionais brasileiros, no meio de um pacote vastíssimo, suscitou enorme curiosidade. No meu caso, mais ainda. O Dema foi considerado, em 1983 e 1985, o melhor «volante» (médio defensivo/centro) do Campeonato Brasileiro pelo Santos, onde, ainda hoje, é uma referência. Chegou a Vila do Conde em condições físicas muito deficientes, algo que já foi visível na pré-época. Fez um jogo em Chaves – derrota 0-4 – e regressou, pouco depois, ao Brasil. Roberto Coração de Leão chegou um pouco mais tarde, mas vinha para ser o goleador do Rio Ave 1987/88. Era (e ainda é) considerado um dos maiores ídolos da história do Sport Recife, de onde saiu para o Internacional de Porto Alegre. Já estava na fase descendente da carreira quando chegou a Vila do Conde. Recordo-me do dia da sua apresentação em que parecia claro o seu excesso de peso, como também de uma revista Placar que elogiava a sua capacidade goleadora. Os seus 15 jogos foram muito fracos, mas, ainda assim, marcou 3 golos que valeram 5 pontos. Não menos importante, um deles foi contra o Varzim (em casa), até porque na Póvoa foi expulso, o que deixa entender que, mesmo fora de forma, percebia quanto valia um derby.
5) Frank Michael Sheridan. Chegou a Vila do Conde, como um médio com experiência na First Division (actual Premier League). Nunca lá jogou. Foi uma promessa do Derby County, então na Second Division, mas a carreira tinha entrado em eclipse: tinha andado pelo Torquay, da 4ª Divisão, e pelo Teignmouth, dos Regionais. Ainda fez 13 jogos (só ganhamos 3), mas nunca me pareceu ter qualidade. Até que um dia desapareceu...
Por fim, num binómio preço/qualidade, o André Jacaré. Ainda assim, o rendimento acabou por ser superior a qualquer um dos anteriores.»