10.2.21

O desconcertante Francisco Geraldes

 

Francisco Geraldes é um jogador de difícil leitura. Os recursos estilísticos a que recorre são tão variados que o tornam imprevisível, tão imprevisível que não deve ser fácil jogar com ele. A alma de artista, a inspiração que vai e vem e aparece quando lhe ocorre aparecer desafinam qualquer esquema ou máquina que trabalha sempre da mesma forma, como ciência exacta. 

Geraldes parece feito de ventos cruzados e incertos, sendo tão capaz de um golo ou de uma assistência brilhantes, como a de ontem no nosso primeiro golo, como de uma perda de bola em zona proibida ou de um toque de calcanhar a servir um colega que afinal não está atrás mas à sua frente. A sua poesia é solta e livre demasiadas vezes, complexa de agarrar, quando numa equipa seria mais fácil que fosse emparelhada, alternada ou cruzada. 

Se Geraldes fosse músico ia parecer quase sempre desafinado, improvisando para si como numa jam session enquanto a orquestra tocava o Bolero de Ravel. Geraldes pode ser o solista, mas convém que o solo se integre na harmonia geral.

Disto isto, sou apreciador do nosso número 11. Gosto de como quebra monotonias, mas espero que Miguel Cardoso lhe encontre o espaço adequado para que ao fazê-lo só desequilibre os adversários.