21.11.18

4-2-3-1 - É muito mais o que “os” separa…


Já poucos se lembram que Miguel Cardoso (MC) o ano passado usou o 4-2-3-1 como esquema tático, esquema esse também ele usado este ano pelo atual treinador José Gomes (JG). Creio que não estarei a mentir se disser que todos nós reconhecemos diferenças e melhorias na equipa deste ano, o seu futebol é mais apelativo, talvez mais eficaz, mas também me parece que temos melhor equipa, e mais soluções.
Com MC o jogo era uma seca, muitas vezes o criticámos por não haver alternativa a esse modelo, era tudo sempre igual, previsível, nas últimas jornadas percebia-se algum desespero porque os adversários já sabiam o que fazer para não perder com o Rio Ave. JG introduziu nesta equipa alguma dose de equilíbrio na posse, e no sair a jogar “sempre” de sectores recuados, esta equipa não sai sempre pelos centrais, laterais, ou pelos médios de cobertura, de vez em quando alterna  com a profundidade, usando os médios/avançados mais criativos, Jambor, Diego, Fábio, e Dala (quando joga). A profundidade, permite à equipa sair de situações de pressão alta. Hoje quase todos os clubes da 1ª liga trabalham esta capacidade de pressão com algum sucesso, esta diferença ( a profundidade) trouxe à equipa, mais soluções, e menos calafrios, o ano passado sofremos muitos golos por erros defensivos quando queríamos sair a jogar, porque o fazíamos sempre, e os adversários sabiam disso. Este ano, creio que isso só aconteceu uma vez com prejuízo.
No início da época muito criticamos a “incapacidade” da equipa pressionar, achávamos ser muito macia, hoje isso não acontece tanto, a equipa mudou pelo menos 5 intervenientes do meio campo para a frente, entraram Fábio, Diego, Vinicius, Jambor, Schmidt, e tudo mudou, a profundidade melhorou, a qualidade na pressão também, a equipa passou a recuperar mais vezes em zonas mais avançadas, e passou a gastar menos “passes” para conseguir situações de perigo, a equipa tornou-se mais objetiva, mais perigosa, mas ao mesmo tempo serena, capaz de impor ritmos, de ter mais posse que os adversários, não nos números exagerados e inconsequentes do ano passado, mas em números que os adversários mesmo assim não gostam…Pois não ter bola significa, ter menos chances de marcar. Outra constatação é de que, esta equipa cria muito mais situações de golo do que com MC, - mais oportunidades, e por consequência um  futebol  mais atrativo.
Mas como podem ser tão diferentes usando o mesmo sistema tático?
Porque os intervenientes não são os mesmos. Esta equipa tem mais qualidade,  e porque  também na equipa de MC os laterais faziam todo o corredor, vezes sem conta, muitas vezes falamos do “estoiro” dos laterais. Com JG os laterais sobem, mas são muito mais comedidos, vão na certa(equipa equilibrada),  apenas quando a equipa não usa a profundidade ( lá está a tal profundidade). Ora esta característica faz com que os laterais não tenham que “esticar” o seu jogo tantas vezes, e por consequência, não estoiram aos 60’ como os do MC.

Chegados aqui, facilmente compreendemos este “Dinâmico” 4-2-3-1, que se transforma a cada jogada em vários sistemas dadas as funções específicas dos jogadores nucleares tais como Fábio, Diego, e Jambor, os “players” desta equipa! Para Galeno e Vinicius, ficam guardadas a fantasia, e a capacidade de finalizar, respetivamente, outra grande diferença do ano passado, os nossos avançados este ano são melhores, talvez com a exceção, de Rúben Ribeiro, que a mim me deixa algumas saudades! 
Falta falar do banco e dos defesas,  ter Dala, Gabrielzinho, Furtado, ou Bruno Moreira no banco é um luxo, e é também uma dor de cabeça das boas para o treinador, estes jogadores iniciaram o campeonato a titulares, com bons resultados, interpretaram com preceito este esquema tático, e dão garantias ao treinador para nos momentos mais difíceis alterarem  o rumo dos acontecimentos. Na defesa, sem dúvida que Borevkovic fez esquecer Marcelo, se continuar assim, Borevkovic, poderá render muito dinheiro ao Rio Ave,   parece-me estar ao nível de um grande, e Buatu está a dar mostras de que é solução, sabemos que com o regresso  de Monte, a coisa pode ficar difícil para ele, mas é claramente opção. Eu diria que estamos muito bem de centrais, mas nas laterais, a coisa parece-me que está um pouco abaixo do ano passado, Lionn e Yuri, são jogadores feitos e de grande qualidade, era difícil substitui-los, sempre muito ofensivos, comparando com Nadjack, Matheus Reis ou Junio, estes bem mais jovens e claramente a necessitarem de jogar para crescer, mas a cumprirem na plenitude o plano do treinador, sobem a preceito, colocam velocidade no ataque, no entanto acho que falta ainda alguma experiência, traquejo e matreirice em virtude da idade, e isso nota-se principalmente em lances capitais, como por exemplo mais recentemente aconteceu com Nadjack.
Durante muito tempo no futebol português só se falava em 4-3-3 ou 4-4-2. Hoje, e percebendo a evolução do futebol moderno (anos 90, Ferguson é o 1º a usar este sistema 93/94), os treinadores retiraram a carga que o sistema tem/tinha sobre o posicionamento dos jogadores, e transformaram-no em algo muito mais dinâmico, o treinador (português) dá muito mais importância aos momentos de jogo, e passou a obrigar os jogadores da frente a correrem mais. Ele (treinador) dá importância ao que se faz quando se tem a bola, e o que se faz quando não a temos (Mourinho é também um dos inovadores neste capitulo). Saber interpretar os momentos de jogo é para o Treinador Português  muito mais importante que muitos outros aspetos do treino, o mérito e o sucesso do treinador português, está precisamente no trabalho que estes passaram a fazer nesta área, criando dinâmicas entre os muitos sistemas de jogo. Para surpresa  minha, e mérito ao presidente, que em boa hora apostou em JG, JG está claramente entre estes treinadores, jovens e modernos, de qualidade.

E sim, acho que esta equipa, é uma equipa jovem e moderna, à imagem do seu treinador,  ambicioso, com um sistema tático de equipa grande(Espanha 2010, usou este sistema).  Este sistema valoriza muito o trabalho de um treinador, e por consequência o de JG, porquê? Porque é sempre muito difícil colocá-lo em prática com sucesso, ainda mais e  principalmente usando tantos jogadores novos.
(um caso recente de rotundo insucesso, Paulo Fonseca no FC Porto…)


Gosto mais, mas muito mais, do 4-2-3-1 de JG do que, o do MC, já ninguém se lembra dele!