Não posso (ainda) garantir a 100%, mas todos os sinais apontam para que Alexandrina Cruz venha a ser nomeada presidente da SAD do Rio Ave. Não sei se será uma presidente executiva ou meramente decorativa – também já nos habituámos a cargos sem função real –, mas se tal acontecer, será o desfecho previsível de um processo iniciado em 2023. E com esse movimento, ficamos perante aquilo que parece ser o xeque-mate.
Quem acompanhou os últimos dois anos do clube, não ficará surpreendido. Desde a vaga de novos sócios em 2023 – alegadamente a tempo de aprovar mudanças estatutárias fundamentais –, passando por alegadamente assembleias gerais à porta fechada para alguns sócios e decisões comunicadas à última hora, tudo parecia montado para chegar a este ponto. Resta agora a última jogada.
E que jogada (Chapeau). Penso até que, alegadamente, poderemos estar perante um caso único no futebol português – e arriscaria dizer, europeu. Um presidente de um clube (minoritário numa SAD) que, depois de liderar o processo de transformação, se vê alegadamente "recompensado" com o cargo máximo... na própria SAD.
Repito, para que não pareça confuso: a presidente do clube que detém apenas 20% da SAD, poderá agora alegadamente ser presidente da sociedade dominada a 80% por um acionista privado. Tudo isto sem conflito de interesses? Só se estivermos todos a jogar às escondidas com o bom senso.
Imagine-se este cenário, fora do futebol:
- Um presidente lidera uma instituição que detém 20% de uma empresa;
- Essa empresa é controlada por um novo dono, que nomeia... esse mesmo presidente para liderar a empresa;
- O presidente não é remunerado pela entidade que representa (o clube), mas poderá receber compensações pela empresa (a SAD), sobre as quais o clube não tem controlo;
- Quando os interesses do clube e da SAD não forem coincidentes – e acreditem, esse dia chegará – de que lado estará esta figura bicéfala?
Se isto não configura um conflito de interesses, então é melhor reescrevermos os manuais de governação e transparência.
Sei bem que ainda falta confirmação oficial. Até lá, admito: isto é apenas uma suposição. Mas, como todos sabemos, onde há fumo...
Fica para já a sensação de que esta poderá ser a jogada final. O xeque-mate num tabuleiro onde quase ninguém teve acesso às regras do jogo.
Se Alexandrina Cruz alegadamente deseja ser a representante máxima da SAD do Rio Ave, detida maioritariamente por um investidor externo, no meu entendimento, deverá demitir-se da Presidência do Rio Ave FC.