1) Quando, como e em que condições aparece o Dibo em Vila do Conde?
Rui Malheiro: A hipótese do Dibo jogar no Rio Ave foi colocada ao presidente Paulo de Carvalho já com a pré-época 96/97 a decorrer, após um particular no terreno do União de Lamas. No final desse jogo, já em Vila do Conde, o Presidente mostrou-me os dados que tinham sido enviados, por fax, ao Rio Ave e havia a hipótese do jogador passar por um curto período à experiência.
2) Tu na altura que funções desempenhavas no Rio Ave?
RM: A história começa no verão de 1993. Era um miúdo de 16 anos, sócio do Rio Ave, e decidi seguir vários treinos durante a pré-época para poder evoluir em termos de conhecimento a esse nível. O treinador da altura, José Rachão, achou estranho ver um miúdo a tomar notas e, no final de um treino, veio falar comigo, creio que a pensar que eu seria um observador de uma equipa adversária. Depois de uma conversa em que percebeu o que estava realmente a fazer, perguntou-me qual seria o onze que o Leça iria apresentar contra o Rio Ave no jogo de estreia da Liga de Honra. Ficou impressionado com a minha resposta e falou com o presidente Paulo de Carvalho sobre a possibilidade de ser incorporado na equipa técnica como observador das equipas adversárias. Foi o que aconteceu, durante toda a época, quer com o José Rachão, quer com o Quinito. Tudo o que se passou nessa temporada, com o Rio Ave a ser impedido, depois de sucessivos escândalos, de subir de divisão – ficamos em 4º lugar, a 2 pontos do 1º e a 1 ponto de 2º e 3º –, provocou um enorme desgaste em todos e levou a que o presidente e o treinador saíssem. Como é natural, também saí. Depois de dois anos a colaborar, principalmente, com o Quinito, mas também com outros treinadores, o engenheiro Paulo de Carvalho, novamente Presidente do clube, contactou-me, no Verão de 96, a saber da minha disponibilidade para voltar a colaborar com ele e com o Rio Ave, que acabava de regressar à Liga. Como é natural, aceitei imediatamente. Nesse período, entre 1996 e 2000, as minhas funções passaram pela análise de adversários, aqui em colaboração directa com o Carlos Brito e com o Lúcio, pela prospecção e por fazer, todos os jogos em casa, uma ficha para a comunicação social com as estatísticas do Rio Ave e dos adversários, algo incomum na época. Tive também a honra de ser convidado, 2 ou 3 vezes, pelo presidente Paulo de Carvalho para ser director desportivo do Clube, mas, como estava a terminar a licenciatura em Economia, questões familiares acabaram por se sobrepor e continuei como colaborador. O que, para mim, foi uma pena, já que era a “minha cadeira de sonho”, ainda por cima a trabalhar com pessoas de quem gosto muito, e nunca quis ser economista.
3) O que te pediram e o que fizeste relativamente ao Dibo?
RM: Na altura, ainda pré-internet, fiquei de fazer uma investigação sobre o passado do jogador. Como era leitor da France Football, encontrei vários jogos do Dibo nas divisões inferiores francesas, ao serviço do Grenoble e do Ajaccio, com notas, muitas vezes, a variarem entre o 1 e o 4 (numa escala de 0 a 5), alternando jogos medíocres com outros em que as suas acções foram determinantes. Lembro-me também de ter descoberto a sua passagem falhada pelo futebol dinamarquês, que, creio eu, tinha dados mais excitantes no currículo enviado ao Clube: algo muito normal nesse período e que se repetiu, com frequência, durante essa pré-temporada, em que terão sido “oferecidos” quase uma centena de jogadores. Apresentei um relatório ao Presidente e, na altura, pareceu-nos que podia ser uma aposta muito interessante e sem riscos, até porque viria à experiência e a qualidade técnica do jogador era amplamente elogiada pela France Football. É certo que o Dibo não se apresentou nas melhores condições físicas, pois estava com peso a mais, mas era notório que tinha qualquer coisa que o diferenciava de outros jogadores. Aí, o mérito é para o presidente Paulo de Carvalho que assumiu o risco da aquisição.
4) É verdade que era tão bom jogador quanto malandro?
RM: Claro que sim. Basta recordar as suas viagens à Costa do Marfim, fosse para representar a Selecção ou por questões familiares. Demoravam sempre mais tempo do que previsto. Como também, a nível do treino, tinha lacunas. Recordo-me que na recuperação épica de 96/97, em que ele assumiu um papel decisivo, muitas vezes não treinava durante a semana por problemas físicos. Ou “físicos”, como preferirem. Só que no jogo, com liberdade e a jogar na posição certa, destroçou várias defesas e deu-nos vitórias cruciais. Para quem não se recorda, é só ver a trilogia épica que vocês felizmente recuperaram.
5) Para ti foi o melhor jogador que vestiu a camisola do Rio Ave?
RM: Para mim, o melhor jogador que vestiu a camisola do Rio Ave foi e será sempre o capitão Duarte. A nível do futebol, será sempre a minha maior referência, até por tudo o que me ensinou e que me permitiu ter competência, aos 16 anos, para ser analista de equipas adversárias. Foi o meu Mestre. Os jogadores mais talentosos que vi vestirem a camisola do Rio Ave foram o Coentrão, Dibo, o Quim e o Ricardo Nascimento. A ordem é, meramente, alfabética.