2.3.11

«A construção do futebol»

«Em Vila do Conde são famosos os jantares de angariação de fundos a favor do Rio Ave. É o próprio presidente da Câmara, Mário Almeida, fanático do clube, que entrega os convites em mão. Houve tempo em que havia uma colecta mínima (5 mil euros), mas agora a contribuição fica ao critério da generosidade de cada um. Os empreiteiros e promotores sabem que têm de pagar o 'imposto revolucionário' para se manterem nas boas graças da Câmara. O construtor António Silva Campos (ASC) sempre foi um aliado fiel de Mário Almeida. Ajuda o clube e a atividade prospera. Os concorrentes dizem que é 'o empreiteiro do regime'. Basta consultar o site da ASC para verificar as escolas, museus (...). Ser presidente do clube é um detalhe - o essencial "ser financiador e alinhado com o poder autárquico"»

«No Rio Ave os patrocínios  na camisola servem de alegoria à realidade do clube. À frente, a publicidade é paga pela autarquia (em 2009 subsidiou o clube em 490 mil euros), nas costas pela ASC. "O presidente de facto do Rio Ave é Mário de Almeida", diz um elemento do PSD local. Antes de apresentar o projecto para o seu centro comercial já a espanhola Nassica patrocinava o Rio Ave. A área comercial ocupou terrenos que foram desafectados da reserva agrícola. Quem ganhou dinheiro com a Nassica foi José Maria Pinho, ex-presidente do Rio Ave. Promotores de relevo de Vila do Conde como MSS, Iconorte e Fernando Gomes de Jesus foram à falência. A MSS nunca conseguiu erguer um tijolo na cidade e Fernando de Jesus desabafava entre amigos que fora forçado a oferecer um apartamento a Mora, um guarda-redes espanhol. Sem sobressaltos, a ASC cresce ao ritmo de 10% ao ano, superando em 2009 a barreira dos 20 milhões de euros».
(dois excertos do longo texto A construção do futebol, do jornalista Abílio Ferreira, na revista Exame deste mês)

O meu comentário: há aqui coisas que são, com mais ou menos detalhe, verdade (os apoios da Câmara ao Rio Ave, a preponderância de ASC em Vila do Conde), há outras que fazem parte do diz-que-disse (o 'imposto'), outras que não me parecem fazer sentido (Pinho já não era presidente do Rio Ave no tempo da Nassica) e ainda outras que eu, pessoalmente, desconhecia (o apartamento do Mora, as dificuldades da MSS em construir em Vila do Conde). Já escrevi mais do que uma vez que Mário Almeida é o maior rioavista vivo. Não mudei de opinião.