No dia 1 de dezembro, o Rio Ave acordou com uma ronda abrupta de despedimentos. Um daqueles momentos que, pela sua dimensão e impacto humano, institucional e desportivo, exigiriam explicações claras, rostos visíveis e responsabilidade assumida. Estamos hoje a 18 de dezembro e, apesar de o clube e a SAD terem sido notícia durante dias — quase sempre pelos piores motivos —, o que tivemos foi… silêncio.
Silêncio esse protagonizado, desde logo, pela Presidente Alexandrina Cruz, que tratou de “remarcar” a sua agenda de forma quase cirúrgica para não aparecer em público nos primeiros dez dias após os despedimentos. Passadas mais de duas semanas, continuamos sem qualquer esclarecimento, sem uma palavra dirigida aos sócios, aos adeptos ou aos próprios trabalhadores afetados.
Mas este silêncio não se resume à presidência.
Onde estão agora os profetas da mensagem?
O profeta que era escritor, desapareceu subitamente. Durante dias, rigorosamente nada foi publicado sobre os despedimentos, como se o tema fosse irrelevante ou, pior ainda, inconveniente. Só mais tarde, e com enorme zelo seletivo, surgiu algo a “reforçar” um bom resultado desportivo, convenientemente isolado no meio de um contexto global claramente negativo.
Também os adeptos mais fervorosos, que assumem com orgulho o papel de guardiões da mensagem “cristã” — e sim, o “a” é propositado — optaram pelo recolhimento. Nenhuma palavra sobre despedimentos, nenhuma indignação pública, nenhuma defesa dos trabalhadores do clube. Certamente reaparecerão quando a Presidente voltar a surgir numa capa da Forbes ou numa cerimónia qualquer, porque, aí sim, a fé renova-se.
E, depois, há um último grupo de profetas. Aqueles que pertenciam aos quadros do clube. Esses deixaram de o ser — não por opção, mas por dispensa. Curiosamente, deixaram também de acreditar. Afinal, quando a “deusa” deixa de proteger os seus a devoção transforma-se rapidamente em revolta.
Perante tudo isto, a pergunta impõe-se, simples e direta:
Alguém esperaria algo diferente?
A história recente do Rio Ave tem mostrado que quando as marés estão calmas, há presença, cerimónias e discursos inspiradores. Quando a tempestade chega, sobra o silêncio. E os profetas… esses aprendem rapidamente quando falar, quando desaparecer e quando voltar a acreditar.
